quinta-feira, 3 de outubro de 2024

ENSAIO ÀS VESPERAS DE UM ANIVERSÁRIO

"Ensaio"

Entre o já, o agora e o ainda não, descubro que poderia me tornar um astronauta e viajar até a Lua, onde certamente contaria as cem mil estrelas pensando no sorriso dele — sim, aquele que me fez juras de amor, que, vez ou outra, me levava a sério; que me prometeu o mundo e, no final das contas, me deu somente aquilo que eu precisava e que talvez fosse necessário. Mas, quer saber? Hoje pouco importa, já que nessa roda-gigante da efêmera vida, ciclos se fecham para novos se abrirem.

Talvez sejamos consumidos pelo sistema ou pela nossa própria existência insignificante. Quando eu era pequeno, sonhava em ser artista, mas também cogitei ser coletor de lixo. Para mim, era fascinante observar os movimentos sincronizados dos trabalhadores enquanto dançavam e perambulavam pelas ruas de Lorena, com sacolas nas mãos e um ligeiro sorriso no rosto. Arrisco-me a dizer que esses homens de alma grande e gentil eram felizes. E, por falar em felicidade, dor e sofrimento estão intimamente ligados um ao outro. Nesta conflituosa relação, há uma linha tênue entre os dois mundos paralelos pelos quais vagueia a singeleza da existência: o viver. A felicidade, como bem definida por Nietzsche, é uma ilusão da nossa compreensão da realidade existencial. Se ele estava certo ou não, eu não sei; seus estudos contrapõem-se às ideias de Arthur Schopenhauer, autor da corrente teórica do pessimismo filosófico, e confesso ter uma "quedinha" por tais escritos e linhas de pensamento. No entanto, apesar de toda a minha identificação e projeção de personalização com Nietzsche, prefiro ver a vida como uma oportunidade que se abre a nós em cada etapa.

Celebrar a "volta ao sol" me fez lembrar de Gabriel García Márquez em uma de suas obras: "A memória do coração elimina as lembranças ruins e magnifica as boas; graças a esse artifício conseguimos suportar o passado."

Os momentos felizes podem ser poucos, mas se vividos intensamente tornam-se memórias preciosas quando eternizadas. Os anos passam, pessoas vêm e vão e, graças ao artifício da vida, sobrevivemos — forjados na sombra e na luz de nossos ideais — ao passado que é parte de nós mesmos.

ROSA, R. R. S.
25-09-2024